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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2007

Guarda-me o dia em sua luz a graça

Guarda-me o dia em sua luz a graça da hora final em ouro que debrua a nuvem no abandono que extenua a lembrança em recato enquanto passa ao banho de águas claras e flutua o espírito no tanque aonde a baça marca de amigos passos vai na traça da recta infinitude e desvirtua esta os sentidos Pronto o lugar sei o pé detém-se a erva fique intacta e que o chão é incólume verei do sol a declinar que ali desata incêndios no horizonte: então fenece o dia e meu refúgio me aparece. Walter Benjamin tradução de Vasco Graça Moura

Ler contra o silêncio | 14

Woman reading Utagawa Kuniyoshi

Green Grass of Tunnel

E colho um tufo de erva do teu corpo, como-o, deito-me nele, sinto-lhe a humidade que ficou da última noite, quando nos deitámos e rebolámos e cruzámos, com insectos a medirem-nos a respiração, prostro-me sob a sombra do teu peito, deixo cair dos olhos alguns flocos de neve. Andamos sempre à procura de uma noite que não tem dias, uma noite sem sinais, candeeiros que reflectem a agitação dos mosquitos à queima-roupa. Andamos como uma letra despovoada, nos silos da ternura, a encostar um sopro a outro sopro. Nada nos cura. Henrique Fialho Insónia

Edge

Nicholas Hughes

Paixão

estou no mais alto da pura manhã o meu coração é uma lágrima enorme um frágil astro que procura na linha dos teus lábios o despertar generoso dos solstícios o alegre andamento das estações e quando desces a montanha do teu sono e ficas tão nua da noite eu eu só sou o sereno rio que passa e que numa paixão de luz te leva ao azul infinito do mar gil t. sousa #poesia

Hush

Loretta Lux

Paraíso

Deixa ficar comigo a madrugada, para que a luz do Sol me não constranja. Numa taça de sombra estilhaçada, deita sumo de lua e de laranja. Arranja uma pianola, um disco, um posto, onde eu ouça o estertor de uma gaivota... Crepite, em derredor, o mar de Agosto... E o outro cheiro, o teu, à minha volta! Depois, podes partir. Só te aconselho que acendas, para tudo ser perfeito, à cabeceira a luz do teu joelho, entre os lençóis o lume do teu peito... Podes partir. De nada mais preciso para a minha ilusão do Paraíso. David Mourão-Ferreira

Aqui nesta praia | 36

Les Deux Baigneuses,  William-Adolphe Bouguereau

Farringdon

Richard Bram

Sexy Like Chicken

Richard Bram

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos. Eu quero apenas amar-te lentamente como se todo o tempo fosse nosso como se todo o tempo fosse pouco como se nem sequer houvesse tempo. Soltar os teus seios. Despir as tuas ancas. Apunhalar de amor o teu ventre. Joaquim Pessoa

Keep Clear

Richard Bram

Face a Face

Entendamo-nos: falar de ti e dos teus olhos de garça enevoados seria talvez tão vulgar como enumerar as coisas simples e nisso não há qualquer desafio Existe apenas uma razão íntima, como a de quem não gosta de se repetir ou de estar de costas voltadas para o mar, amando o imprevisto como um sinal de alarme Também, falar de mim, poderia tornar-se perigoso, se me virasse para dentro, habitando a minha memória e não a memória de todos os meus dias: Fariseu único de um Templo de Escadas Rolantes quando vejo mudar a água em sangue e arregaçar as mangas para transformar uma seara em pão não deixando ao diabo esse trabalho de mostrar que a realidade não é o que é mas sempre o outro lado da indiferença E bato as esquinas levando a pederneira com que se acendem os poemas que alimentam as primeiras esperanças atravessando nas passagens de peões com a precaução da caça perseguida e a preocupação de me dar desinventando mágoas, repartindo alegrias como quem escreve um tratado de amizade num país

Countdown

Richard Bram

O Metropolitano

No túnel encurvado ali íamos nós. à frente, ágil, de casaco de viagem, tu, e eu, a apanhar-te como um deus veloz antes que te mudasses em bambu ou nalguma nova flor branca e vermelha, e as abas a adejarem com força, eis que se espalha botão após botão num rasto que assim role entre o metropolitano e o Albert Hall. Lua de mel, andar na lua, tarde para os Promenade, os nossos ecos morrem nesse corredor e agora hei-de ir como Hansel ia pelas pedrinhas batidas pela lua refazendo o caminho, apanhando os botões da rua para acabar nas correntes de ar e na luz frouxa da estação, partindo os combóios, na via húmida que jaz a nu e tensa como eu, todo atenção aos teus passos e a perder-me se olho para trás. Seamus Heaney tradução de Vasco Graça Moura

In Darkness Visible

Nicholas Hughes

Parto feliz quanto o silêncio o sele

Parto feliz quanto o silêncio o sele de que ao nascer fui logo destinado a ser brilho da noite no olhar dado a quem silente ao vasto céu se impele a ser raio que toca os olhos dele e em que feliz está quem não é nado e junto à face a ser mais afagado que no azul voga em nuvem que revele a luz Estava escrito nunca havia de me vibrar a boca sem o canto e a minha fronte o extremo arco seria do berço em prece ardente a orlá-lo enquanto aconteceu que me escapou então com minha jovem morte em sua mão. Walter Benjamin tradução de Vasco Graça Moura

Cold Night

Richard Bram

mão

e a minha mão desceu o teu rosto num movimento de coisa que parte e tu disseste: porque é que as mãos dos que amámos nos acenam vazias? mas não na minha mão havia uma lágrima enorme e azul que tu já não sabias ver gil t. sousa do blog #poesia

Domingo no mundo | 18

Tango Musicians, San Telmo - Buenos Aires Richard Bram

Dolor

Josephine Sacabo

Notívaga sombra

temo que anotes, no suor velado do teu cálice, que o contar dos dias me apavora. e que eu deixo o rosto, pender sobre o peito sem fôlego, para que essas lágrimas não sejam de ninguém. vou confundi-las com chuva, e me ocultar nas sombras. sobre meu corpo deitar-se-ão véus. de modo a que não mais me reconheças, no meio de tantos assobios, de tantos trapos açoitados, na longa noite que me envencilhou. Carlos Henrique Leiros do blog Almofariz

Ler contra o silêncio | 13

Compartment C, Car 293 Edward Hopper

Gilded Circle

Josephine Sacabo

Acto de união | 2

Ainda imperialmente macho nesta altura eis-me a deixar-te com o sofrimento: na colónia o processo de ruptura, o ariete, o romper do dique por dentro. O acto gerou uma quinta coluna obstinada crescendo unilateral, de coração tambor de guerra que reuna as forças sob o teu. Seus punhos, afinal, pequenos, néscios, parasitas, já te batem nas fronteiras e sei-os retesados através da água contra mim. Nenhum tratado dá, prevejo, inteira cura ao teu corpo marcado e assim lasso de estrias, dor grande que te fez em carne viva, como chão aberto, uma outra vez. Seamus Heaney traduzido por Vasco Graça Moura

Las palomas

Josephine Sacabo

Acto de união | I

Esta noite, um primeiro movimento, uma pulsão, como se a chuva no pântano jorrasse uma cabeça: um rebentar do lodo ou um rasgão que abre a cama dos fetos e a atravessa. O teu dorso é uma linha firme da costa a nascente e além das graduais colinas são lançados braços e pernas. Acaricio a entumescente província onde cresceu o nosso passado. Sou o alto reino sobre o teu ombro quedo e em ti nada o adula ou o ignora. Conquistar é mentira. Envelheço e concedo teu litoral semi-independente e agora dentro dos seus limites meu legado fica inexoravelmente culminado. Seamus Heaney traduzido por Vasco Graça Moura

À luz da lua | 23

Mother and Child Lord Frederick Leighton

Soñando

Josephine Sacabo

Fragmento de ...

Amor no Feno e outros Contos de D. H. Lawrence "(...) Despontava a fria madrugada quando Geoffrey acordou. A mulher dormia ainda nos seus braços. O rosto adormecido despertou nele uma imensa onda de ternura: os lábios comprimidos, como que decididos a suportar o que custava muito a suportar, contrastavam tanto com o formato pequeno das feições, que metiam dó. Geoffrey apertou-a ao peito: por possuí-la sentia que podia vingar-se dos sorrisos de escárnio, passar pelos outros de cabeça levantada, invencível. Com ela completando-o, constituindo o seu cerne, sentia-se firme e completo. Precisava tanto dela que a amava fervorosamente.(...)"

Male figure

Keith Carter

Fragmento de ...

Amor no Feno e outros Contos de D. H. Lawrence "(...)A chuva caía persistentemente; a noite era um golfo negro. Tudo estava intensamente calmo. Geoffrey pôs-se à escuta: só ouvia a chuva. Parou entre as medas, mas não ouvia mais do que o pingar da água, as chicotadas ligeiras da chuva. Tudo estava perdido na escuridão. Imaginou que a morte havia de ser assim, muitas coisas dissolvidas no silêncio e negrura, apagadas, mas em existência. Na densa negrura, sentiu-se quase extinto. (...)"

Corinne at the Western Motel

Corinne Hommage á Edward Hopper Clark et Pougnaud Western Motel Edward Hopper

Shining

Quando dormes para o lado dos meus sonhos, das minhas angústias graníticas, e tocas como os sinos por dentro do meu corpo, trazendo-me à pele o suor do amor, quando espias os meus dedos debaixo dos lençóis, deixando as promessas prolongarem-se pelas carnes como o vento se prolonga pelas sementeiras, relembrados na fragrância de uma criança adormecida, a nosso lado, amarrando-nos o sono à resolução dos caminhos há muito traçados, os dedos. Quando dizes os teus olhos brilham no meu canto, ouço sem esmero nem glória a música do teu corpo. Henrique Fialho do blog Insónia

the Nighthawks: Anne-Charlotte, Arnaud et Stephane

Anne-Charlotte, Arnaud et Stephane Hommage á Edward Hopper Clark et Pougnaud Nighthawks Edward Hopper

flor de sal

não chames por mim levo nos olhos queimados o fim dos desertos não te posso escutar na branca solidão dos dias porque até no meu silêncio te matei não chames por mim levo nos passos o veneno da Lua a espuma do tempo sai-me das mãos vazias e apaga o trilho por onde as vozes podem chegar não chames por mim levo o peito tão rasgado de ausência! e no meu coração só há uma vermelha flor de sal que já ninguém pode tocar gil t. sousa do blog #poesia

Domingo no mundo | 17

Jumping over waves Jeffrey Wolin

Mireille in the Hotel Room

Mireille Hommage á Edward Hopper Clark et Pougnaud Hotel Room Edward Hopper

Recebes a noite

Recebes a noite, na vaga incerta de lucidez. Todo alado e desnorte. Abre-se a nave intransponível do teu peito. Nenhum lugar dele se acede. Quieto, sondas a manifesta dor, o erro fulgurante dança-te diante dos olhos. É tarde - dizes - e estendes os dedos ao limite próximo da sombra. Dás um passo. Caminhas? Daqui é somente a noite que te engole ou tanta outra loucura que te nomeia. Fernando M. Dinis do blog FICO ATÉ TARDE NESTE MUNDO

Virginie in the Morning Sun

Virginie Hommage á Edward Hopper Clark et Pougnaud Morning Sun Edward Hopper

Dia Mundial da Música

nearness of you autumn rooftop Kenney Mencher

Swimmers II

Sally Gall

Bathing beauty

Sally Gall

Swimmers I

Sally Gall

Linda II

Sally Gall

Andrea

Sally Gall

Linda

Sally Gall