O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
Volto ao Hálito para exercitar o olhar com coisas belas, as imagens, as reproduções artísticas e, principalmente, os poemas escolhidos com tanto esmero.
Lindíssimos os da lavra do Joaquim Pessoa. Fiquei tocado!
Sem palavras para explicar a emoção de rever Bouguereau [lembrou-me um trabalho dele de nome O Ninfário [nimpharium] (?)]. Perdoe-me a tradução. Talvez a palavra nem exista, se nos distanciarmos da sua literalidade, mas é a que encontro de maior coerência.
É ótimo voltar aqui.
Abraços do
Carlos