Avançar para o conteúdo principal

Parto feliz quanto o silêncio o sele

Parto feliz quanto o silêncio o sele
de que ao nascer fui logo destinado
a ser brilho da noite no olhar dado
a quem silente ao vasto céu se impele

a ser raio que toca os olhos dele
e em que feliz está quem não é nado
e junto à face a ser mais afagado
que no azul voga em nuvem que revele

a luz Estava escrito nunca havia
de me vibrar a boca sem o canto
e a minha fronte o extremo arco seria

do berço em prece ardente a orlá-lo enquanto
aconteceu que me escapou então
com minha jovem morte em sua mão.



Walter Benjamin
tradução de Vasco Graça Moura

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A essência dos dias.2

O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]

XTERIORS XVII

  Desirée Dolron

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice