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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2012

Não disse nada, amor

Não disse nada, amor, não disse nada: foi o rio que falou ...com a minha voz a dizer que era noite e é madrugada a dizer que eras tu e somos nós. A dizer os mil rostos e Lisboa ao longo do teu rosto se te beijo. À luz de um pombo chamo Madragoa e Bairro Alto ao mar se te desejo. Não disse nada, amor. Juro, calei-me: foi uma voz que ao longe se perdeu. Cuidei que era Lisboa e enganei-me pensei que éramos dois e sou só eu. António Lobo Antunes encontrei no blog Há vida em Marta

no cure for love..

[Daria Endresen]

Esta noite o vento ceifa os bosques

Esta noite o vento ceifa os bosques e uma raiva sacode a terra. se a voz do mar chamasse pelas velas, os estreitos aguardariam um naufrágio. E se dissesses o meu nome eu morreria de amor. Devo, por isso, afastar-me de ti ― não por ter medo de morrer (que é de já não o ter que tenho medo), mas porque a chuva que devora as esquinas é a única canção que se ouve esta noite sobre o teu silêncio. Maria do Rosário Pedreira
[Daria Endresen]

Brushing

Estranhava-lhe a forma de vestir e os olhos pintados de preto. Do espelho do cabeleireiro, que ficava no rés do chão do prédio da avó, espreitava-lhe o gestos lentos e os olhos indiferentes às conversas com cheiro a shampoo e amoníaco. Lavava cabeças. Menos quente, pedia-lhe, evitando tratá-la pelo nome próprio, Sílvia. Olha que ela gosta de mulheres, dizia-lhe a avó. Por isso, nunca a chamava pelo nome, que os nomes trazem excesso de intimidade. Põe creme? Só nas pontas, respondia enquanto pensava no incómodo que era ter a cabeça nas mãos de uma mulher que guardava uma fotografia de outra na bata preta. Pelo espelho observava-a, encostada ao carrinho dos rolos e das escovas, sorrindo para uma fotografia tipo passe, tirada numa estação de metro qualquer. Depois tirava da mala um queque de chocolate embrulhado num guardanapo de papel e ficava ali, com os olhos pintados de preto perdidos no chão cheio de cabelos. Ela, sentada na cadeira em frente ao espelho, com os cabelos a pingar na
[Daria Endresen]