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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2007

A caminho do campo...

The green hill Winslow Homer Deixo por aqui este rasto de campo, para onde me vou pondo a caminho... Fiquem bem por cá. Reencontramo-nos em Setembro!

The dinner horn

Winslow Homer

eira do catavento | 4. janeiro

os radiadores são pouco bucólicos, mas aquecem a casa toda, impedem que tiritemos e que a humidade venha aos livros. na lareira da sala o fogo lambe o ar alegremente, entre estalidos de lenha a crepitar quando ela pega e não faz fumo, e o temporal desabrido, lá fora, dá-nos a medida de uma tépida mediania cá dentro, enquanto passam as horas sem sobressalto e é já noite fechada e sabe bem um chá bem quente, um agasalho, uma poltrona, um livro, uma vontade vagabunda de escrever. é inverno, húmido e frio, cor de cinza empastada e rasa de água. meu amor, deixa-te estar aqui, ainda há tempo, tempo antes do jantar e das notícias. tempo agora e depois. aqui. deixa-te estar aqui, fica ainda aqui. Vasco Graça Moura

Apple picking

Winslow Homer

eira do catavento | 3. setembro

agora o outono chega, nos seus plácidos meneios pelas vinhas. um dos vizinhos passa um cabaz de maçãs por sobre a vedação: redondas, verdes, o seu perfume vai dentro de quinze dias ser mais forte. a noite cai mais cedo e apetece guardar certos vermelhos da folhagem e amarelos e castanhos nas ladeiras de setembro. a rádio fala no tempo variável que vem aí dentro de dias. talvez caia uma chuvinha benfazeja, a pôr no ponto certo os bagos de uva. e há poalhas morosas, mais douradas. aproveita-se o outono no macio enchimento dos frutos para colhê-lo a tempo. devagar, dvagar. é mais doce no outono a tua pele, Vasco Graça Moura

On the hill

Winslow Homer

eira do catavento | 2. junho

estás a olhar para mim. tens um chapéu de palha de abas a acompanhar a curva do teu riso. pode ser ou praia ou campo o sítio em que me encontras. eu sei que é no jardim, que os cães agora dormitam, que há mais rosas quase a abrir, regadas de manhã, que olhaste as trepadeiras e mudaste um hibisco, que estão num canto a pá, o regador, um vaso já sem terra ontem comprado (não, não vamos à feira logo à tarde) e além sobe por fim a madressilva. dão-te as argolas um ar aciganado, acentuando a tua tez meridional por entre as sombras leves que tens no rosto, enquanto ris como a dizer de um tempo sem história, feito das brisas do sossego, das claridades do verão. Vasco Graça Moura

Peach blossoms

Winslow Homer

eira do catavento | 1. março

está um bela manhã, clara e fria, há restos de geada na relva e notas de amarelo-vivo nos limoeiros. umas rosas, junto ao muro, resistiram ao inverno e o sol brilha levemente enevoado. o cachorro derrubou um vaso de buxo. fica uma mancha de terra muito preta nos degraus. salvar o buxo, reenvasá-lo, tarefas da manhã com ralhos ao cachorro que não percebe e continua a saltitar na relva húmida à minha volta. apito, digo-lhe, isto não se faz. aponto-lhe o indicador e ele dá à cauda, alegre e despreocupado. sabe que há-de saltar atrás das borboletas. Vasco Graça Moura

Morning glories

Winslow Homer

À luz da lua | 21

Rita & TJ Thomas Hart Benton

Death and Life

Gustav Klimt

Amigas

Chegámos tarde ao dia aprazado para tratar das nossas mortes. Tinhamos trabalhado tanto a ideia de preparar ao milímetro as nossas últimas vidas e a morte e a morte de cada uma que escolhemos um dia para nos sentar e trocar com juramento de sangue e votos de não sofrer, não cair e nos ajudarmos a morrer de repente. Agora nada havia a fazer e era difícil estar assim perante a eternidade aprisionada numa capela barroca, sem podermos conversar e estabelecer os protocolos da partida. Agora nada havia a fazer senão dizer as sete últimas palavras e um guia de viagem para não te perderes no rio profundo que tinhas para percorrer. Trouxe os livros antigos só para o caso de ser ainda possível deixar-te debaixo do lençol de linho um guia de orientação para as coisas profundas, as orações em ponto de milho (copiadas de Clarice Lispector) e um copo de prata para as oferendas. A noite, apesar de tudo, estava luminosa e embora o rio parecesse mais parado do que o costume, as vozes, sobretudo as voze

The three ages of woman

Gustav Klimt

Domingo no mundo | 16

Recordações Nuno Manuel Baptista

Love heart

Stuart Pearson Wright

Scrap of paper

Stuart Pearson Wright

À hora em que os cisnes cantam...

Nem palavras de adeus, nem gestos de abandono. Nenhuma explicação. Silêncio. Morte. Ausência. O ópio do luar banhando os meus olhos de sono... Benevolência. Inconseqüência. Inexistência. Paz dos que não têm fé, nem carinho, nem dono... Todo o perdão divino e a divina clemência! Oiro que cai dos céus pelos frios do outono... Esmola que faz bem... — nem gestos, nem violência... Nem palavras. Nem choro. A mudez. Pensativas abstrações. Vão temor de saber. Lento, lento volver de olhos, em torno, augurais e espectrais... Todas as negações. Todas as negativas. Ódio? Amor? Ele? Tu? Sim? Não? Riso? Lamento? — Nenhum mais. Ninguém mais. Nada mais. Nunca mais... Cecília Meireles

1 ano

O hálito azul da tarde faz hoje 1 ano! Estou contente, e neste dia, só há um poema que aqui faz sentido deixar... As imagens quebradas Uma última vez percorro a cidade no dia em que começa a minha morte. Reconheço estes lugares apesar da mudança e a sua esquiva familiaridade roça-me as tolhidas asas da memória. Aqui escrevi. Naquela sombra imaginei. Entre uma e outra coisa, vivi. O bastante para saber que toda a vida em seu acidentado curso se salda por longo reiterar de aproximações rumo à verdade, confusa teia de retrocessos, falsas pistas, infrutíferas buscas, constante e pertinaz correcção de rotas através da bruma ou da luz mais intensa. Sobre a rocha escaldante larguei doloridamente a pele; adormeci no letargo da crisálida; frágeis romperam-se-me as asas antes do voo. As portas franqueadas abriam para o labirinto e o descontínuo das imagens. Escrevi de coisas inúteis, relatei factos comezinhos, sobre cinzas e nada discorri em favor de uma ordem pressen

Wishing for eternal togetherness

Li Shuang

At the glistening kiosk

Li Shuang

Pensamento Primaveril

O medo mistura-se ao prazer enquanto ela sorri ao pensar que vai ao seu encontro A caminho do lago o orvalho da montanha refresca-lhe as mangas de seda Quem se habituaria a estas coisas ilícitas? Somente o receio de faltar ao juramento secreto leva com passos cautelosos ao quiosque de perfumes de brocado Espreita, procura nos ruídos do vento esconde-te à espera do amor perfumado Ao pé do muro branco uma flor brinca com a sua sombra Sob as persianas vermelhas o brilho disfarçado da lua Docemente com um sopro, a lâmpada apaga-se Zhang Kejiu Tradução da versão em língua francesa e selecção de Albano Martins

Clouds and Water

Li Shuang

Olhar tardio sobre o lago

De leste a oeste partem e chegam os barcos, combate de formigas Bater de palmas, a dama mongol está embriagada Do poente chegam rumores de canções Uma nuvem solitária atravessa a sombra dum pagode Vento de lótus na noite fresca, o céu é como água Zhang Kejiu Tradução da versão em língua francesa e selecção de Albano Martins

Aqui nesta praia | 36

Les Deux Baigneuses William-Adolphe Bouguereau