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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2007

A morte o amor a vida

Julguei que podia quebrar a profundeza a imensidade Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco Estendi-me na minha prisão de portas virgens Como um morto razoável que soube morrer Um morto cercado apenas pelo seu nada Estendi-me sobre as vagas absurdas Do veneno absorvido pelo amor da cinza A solidão pareceu-me mais viva que o sangue Queria desunir a vida Queria partilhar a morte com a morte Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro nem o orvalho Nada nem à frente nem atrás nada inteiro Havia eliminado o gelo das mãos postas Havia eliminado a invernal ossatura Do voto de viver que se anula Tu vieste o fogo então reanimou-se A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de estrelas E a terra cobriu-se Da tua carne clara e eu senti-me leve Vieste a solidão fora vencida Eu tinha um guia na terra Sabia conduzir-me sabia-me desmedido Avançava ganhava espaço e tempo Caminhava para ti dirigia-me incessantemente para a luz A vida tinha um corpo a esp

Winter Field

Robert & Shana ParkeHarrison

As pequenas descobertas

sabias que esta noite eu desejei que a vida, seguindo um simples capricho, passasse a desvendar todos os atalhos, e nos conseguisse encontrar? para trazer à minha volta, o teu sorriso de pólen e a falsa excitação do abismo sob os pés. que todos os cabelos ao luar revoltos, se transformassem em borlas de algas tenras, passamanaria entre nossos dedos. foi quando ouvi o choro dos ciprestes, e abrindo os olhos, eras novelo perto do meu rosto, espelho opaco mas sensível às minhas mãos em cunha, buscando nos teus ângulos, a presença do sopro que me anima: a tua luminosa quietude. Carlos Henrique Leiros do Almofariz

Dawn

Keith Carter

A perder de vista

NO SENTIDO DO MEU CORPO Todas as árvores com todos os ramos com todas as folhas A erva na base dos rochedos e as casas amontoadas Ao longe o mar que os teus olhos banham Estas imagens de um dia e outro dia Os vícios as virtudes tão imperfeitos A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas obstinadas As tuas ideias fixas no coração de chumbo nos lábios virgens Os vícios as virtudes tão imperfeitos A semelhança dos olhares consentidos com os olhares conquistados A confusão dos corpos das fadigas dos ardores A imitação das palavras das atitudes das ideias Os vícios as virtudes tão imperfeitos O amor é o homem inacabado. Paul Eluard

Vem sentar-te comigo Lídia

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos). Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos com o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes. Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar. Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sosse

Segura-me o coração

Isabel Lhano

Domingo no mundo | 19

:) Karina Bertoncini

Your choice

Manuel Librodo

Amor

As árvores do outono sobrepõem-se sob o alpendre esculpido inumeráveis núvens floridas escoltam o sapo de jade alguns fios de perfume nocturno atravessam a cortina bordada ela espera escondida a porta meio aberta meio fechada Zhang Kejiu Tradução da versão em língua francesa e selecção de Albano Martins

Dyed

Manuel Librodo

Tal e qual

A cerca de bambus, tinidos de jade Na janela folhas de bananeira, reflexos de seda verde por entre os risos o som do pipa em cima da árvore dança uma lua pálida o vento perfuma-se na opulência das flores casa duma dama elegante uma adorável empregada jovem filtra o chá Zhang Kejiu Tradução da versão em língua francesa e selecção de Albano Martins

Bloom

Manuel Librodo

Improviso ao lado de uma ameixieira

À chuva as flores abrem o viajante chega do outro lado das núvens embora lhe deva um poema inacabado reencontramo-nos com alegria declive sinuoso na direcção do quiosque o jade derrete-se pequena árvore polvilhada de borboletas na espuma de neve e de pétalas afundam-se as nossas alpergatas de pano escuro [ "um poema inacabado " : o poeta tem uma "dívida poética" para com um amigo que lhe dedicara um poema ao qual ainda não respondeu. O tema do encontro com a ameixieira em flor na paisagem nevada é uma alegoria da procura da inspiração poética. "o jade" : a neve ] Zhang Kejiu Tradução da versão em língua francesa e selecção de Albano Martins

Dyes

Manuel Librodo

Colours

Manuel Librodo

Escrito como o vi

Uma brisa ligeira agita as folhas do salgueiro os lótus de flores ébrias embebem-se de poente nos montes distantes pálidas núvens acariciam o céu ainda claro a rapariga dos pós vermelhos tem seguramente doze,treze anos docemente, ela recolhe uma canoa carregada de nenúfares Zhang Kejiu Tradução da versão em língua francesa e selecção de Albano Martins

Aqui nesta praia | 37

East Hampton, Long Island, Winslow Homer