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A mostrar mensagens de março, 2011

Dorme, meu amor

Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos. Fecha os olhos agora e sossega ― o pior já passou há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo. Dorme, meu amor ― a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres. mas nada temas; as suas asas de sombra não hão-de derrubar-me ― eu já morri muitas vezes e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos agora e sossega ― a porta está trancada; e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos nas brumas que lancei no caminho. Por isso, dorme, meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui, de guarda aos pesadelos ― a noite é um poema que conheço de cor e vou contar-to até adormeceres. Maria do Rosário Pedreira