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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2007

À luz da lua | 18

Mother and Child Joseph Hanson

Três Mulheres, poema a três vozes (V)

PRIMEIRA VOZ: Quem será que nos arremessa estas almas inocentes? Repara, estão exaustas, completamente esgotadas Nos seus berços forrados a tecido, os nomes presos ao pulso, Pequenos troféus de prata que vieram buscar de tão longe. Há algumas de cabelo negro e espesso, outras carecas. A sua pele é rosada ou pálida, morena ou avermelhada; Começam a registar as suas diferenças. Parecem-me feitos de água; não têm expressão. Os seus traços estão adormecidos, como a luz em águas tranquilas. São autênticos monges e freiras vestidos com roupas idênticas. Vejo-os a cair no mundo como estrelas - Na ìndia, na África, na América,estes pequenos seres milagrosos. Estas imagens puras e minúsculas. Cheiram a leite. Têm as solas dos pés incólumes. Como se caminhassem no ar. Pode o nada ser tão pródigo? Aqui está o meu filho. O seu imenso olhar é desse azul liso e incaracterístico. Vira-se para mim como uma plantinha cega e luminosa. Um grito. É esta a amarra que me sustém. E sou um rio de leite. Sou u

Artist at rest

Zhang Yibo

Coisa de palavras

Coisa de palavras, sentados na relva do lago, conversando por causa de um livro, pequenas graças, alguma coisa termina. Os nomes das ruas ficam sem a tinta do inverno, ponho a cabeça fora da janela, talvez te veja, sacola ao ombro, linhas sublinhadas, voam pedaços de jornais. Posso dizer que passo os dias a abrir e fechar janelas, nas esperas de nada haver a esperar, ou talvez o corpo que quisera acertado para o amor. Quem vem e quem não vem é tudo o mesmo, há mais musgo nos telhados, há menos noite, o sinal das horas desperta este estreito corredor onde canso as mãos, onde viajo até nova iorque, tudo é a casa, uma orquestra de câmara, um reduzido museu, uma feira de velharias, os jogos de ter sete anos, e num outro poema volto a encontrar-te. Vai sendo grave a paciência com que te descubro estes meses passados, nunca fugirás, respiro mal pelas cinco da manhã, se o corpo cresce há que tapá-lo de iodo e pele nova. Helder Moura Pinheiro

Faz-se luz pelo processo

Faz-se luz pelo processo de eliminação de sombras Ora as sombras existem as sombras têm exaustiva vida própria não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela intensamente amantes loucamente amadas e espalham pelo chão braços de luz cinzenta que se introduzem pelo bico nos olhos do homem Por outro lado a sombra dita a luz não ilumina realmente os objectos os objectos vivem às escuras numa perpétua aurora surrealista com a qual não podemos contactar senão como os amantes de olhos fechados e lâmpadas nos dedos e na boca Mário Cesariny

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te perco conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura tanto, tão perto, tão real que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu num rio que desapareceu onde um braço teu me procura Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te perco Mário Cesariny

Persephone and Flowers

Robert Brackman

À luz da lua | 17

Mother and Baby Joaquin Sorolla Bastida

Carrego o teu coração comigo

carrego o teu coração comigo (carrego-o em meu coração) nunca estou sem ele (onde eu vou tu vais, querida; e o que é feito só por mim és tu que fazes, meu amor) eu não temo nenhum destino (tu és o meu destino, meu doce) eu não quero outro mundo (pela tua beleza ser o meu mundo, minha verdade) e tu és seja o que for que a lua signifique e o que quer que o sol cante sempre és tu aqui está o segredo mais profundo que ninguém sabe (a raíz da raíz e o botão do botão e o céu do céu da árvore chamada vida; a qual cresce mais alto do que a alma espera ou a mente esconde) e este é o milagre que mantém as estrelas separadas carrego o teu coração ( carrego-o em meu coração) e. e. cummings Tradução de J.T.Parreira, autor do blog Poeta Salutor

Aqui nesta praia | 29

Les Grandes Baigneuses,  Paul Cézanne

The crucifixion (detail)

Matthias Grunewald Desejo a todos uma Páscoa Feliz! ... até para a semana...

Pietá

Paula Rêgo Já lívido repousa em seu regaço. Já não escuta, não vê, não ri, não fala. Aquele que foi Seu filho, Ela o embala Morto, alheia a tempo e espaço. O mistério parou no limiar dos assombros. Dos irados profetas, das rígidas escrituras Sobra um Deus morto; e os únicos escombros São a atónita aflição das criaturas. Eles choram, vários, como vários são Sua revolta e sua dor. Absorto, O olhar da Mãe escorre, inútil, no chão. Ela, o que chora? O Deus parado - ou o filho morto? Reinaldo Ferreira