O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
Wis-me de volta ao Hálito para mais uma visita.
Quero dizer-lhe que achei soberbo o poema Paraíso, do David Mourão- Ferreira. Versos de uma rara beleza. E eu não o conhecia...
Por fim, o que dizer das imagens? Continuam belas como sempre, a denotar - além dos méritos dos seus autores - o seu bom gosto em escolhê-las e reuní-las aqui, para deleite dos seus visitantes.
Sou-lhe grato.
Abraços do
Carlos