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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2008

O beijo

Edvard Munch

kopenhagen script

1 as árvores furiosamente nuas largam os seus pássaros negros num outro mês qualquer e as estradas separam as folhas rolam as pedras cansadas de sol para que o sul seja um lugar onde a água espera e o destino se esconde em forma de ilha que mão amputar se assim nos pedem o frio? 2 são tão largas as horas que se consegue ver a solidão dum comboio vermelho a raspar a noite como homens à procura de uma porta definhando gloriosamente nas suas estações de desespero 3 pelas gárgulas das catedrais escoam-se noites antigas que homens pacientemente sábios recolhem letra a letra a neve, tão mansa, guarda-lhes a sombra e os passos que numa janela alta e distante um outro homem há-de ler 4 às vezes os navios doem como ópio num pulmão derrotado ou como quando tu ficas no impossível meridiano da ausência e eu te aceno de um silêncio que é quase a loucura dos pássaros gil t. sousa do blog #poesia

havia o vento frio e o som que fazia...

Stob Dubh, Glen Etive, Glencoe Reflected sun, Grobsness, Shetland Walls near Ulpha, Cumbria Barbary Castle clump, Spring Fay Godwin

Como viver. o que fazer

Ontem à tardinha a lua nasceu sobre esta rocha Impura sobre um mundo inexpurgado. O homem e seu companheiro pararam Para descansar perante a heróica altura. Friamente o vento caiu sobre eles Em muitas majestades de som: Eles que tinham deixado o sol de chama caprichosa Em busca de um sol de fogo mais intenso. Em vez disso havia esta rocha tufada Elevando-se massivamente alta e nua Para lá de todas as árvores, os cumes atirados Como braços gigantes por entre as nuvens. Não havia nem voz nem imagem cristada, Nenhuma corista, nem padre. Havia Apenas a grandiosa altura da rocha E os dois parados de pé a descansar. Havia o vento frio e o som Que fazia, longe do esterco da terra Que tinham deixado, som heróico Alegre e jubiloso e seguro. Wallace Stevens traduzido por Luísa Maria Lucas Queiroz de Campos

The bride

Gustav Klimt

Sleeping woman

Man Ray

The virgin

Gustav Klimt

A meu favor

A meu favor Tenho o verde secreto dos teus olhos Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor O tapete que vai partir para o infinito Esta noite ou uma noite qualquer A meu favor As paredes que insultam devagar Certo refúgio acima do murmúrio Que da vida corrente teime em vir O barco escondido pela folhagem O jardim onde a aventura recomeça. Alexandre O´Neill

Palavras

Machados, depois do seu golpe a madeira ressoa, e os ecos! Ecos que partem do centro, semelhantes a cavalos. A seiva jorra como lágrimas, como água capaz de lutar para refazer o seu espelho sobre uma rocha que cai e se transforma, uma branca caveira consumida pelas ervas daninhas. Anos depois encontro-as na estrada... Palavras secas e sem cavaleiro, infatigável ruído de cascos. Enquanto do mais fundo do lago as imóveis estrelas regem a vida. Sylvia Plath traduzida por Maria de Lourdes Guimarães

Pela água

Um lago negro, um barco negro, duas pessoas negras em papel recortado. Para onde vão as árvores negras que bebem aqui? As suas sombras devem cobrir o Canadá. Das flores aquáticas sai filtrada uma luz ténue. As suas folhas não querem que nos apressemos: São circulares e sem relevo, cheias de conselhos obscuros. Mundos frios agitam-se com os remos. O espírito da escuridão está em nós, está nos peixes. Um ramo submerso ergue uma mão pálida em despedida; as estrelas abrem-se entre os lírios. Não ficas cego com a mudez de tais sereias? Este é o silêncio das almas já perturbadas. Sylvia Plath traduzida por Maria de Lourdes Guimarães