O livro aberto pousado nas suas mãos.   Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta.   O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos.   Olho a sua face iluminada.   Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro.   Ninguém atenta na singularidade deste instante.   A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado.  [ alma ]  
"(...) Caminho pelos lugares queridos, sem tristeza, nem mágoa, altas, condoídas árvores, lagos serenos escorrendo de meus olhos, hálito azul da tarde que, por cair, de sombras vai tranquilizando o horizonte. Só, meu coração, bate contra a pedra e o silêncio." Rui Knopfli.

Comentários
Eis-me de volta ao Hálito, bastante encantado com as suas últimas postagens.
Como admirador de Edward Hopper, não poderia ficar silente ao encontrar tão belas obras e suas criativas adaptações.
Nighthawks [aves noturnas]muito me emociona. Outra que gostaria de citar é Cape Cod Evening [amanhecer em cape cod]. Tem uma beleza que nos cativa!
No mais, li e reli o belo poema Flor de Sal, do Gil T. Sousa. Que grata surpresa conhecer mais um nobre poeta.
Receba meu abraço.
Carlos
o gil sousa tem um blog com muita poesia, e alguma de sua autoria como a que aqui coloquei. vale a pena passar por lá. quanto ao Edward Hopper, as suas "imagens" carregam uma poesia que me fascina, muito pela sua simplicidade.
Abraço