O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
Eis-me de volta ao Hálito, bastante encantado com as suas últimas postagens.
Como admirador de Edward Hopper, não poderia ficar silente ao encontrar tão belas obras e suas criativas adaptações.
Nighthawks [aves noturnas]muito me emociona. Outra que gostaria de citar é Cape Cod Evening [amanhecer em cape cod]. Tem uma beleza que nos cativa!
No mais, li e reli o belo poema Flor de Sal, do Gil T. Sousa. Que grata surpresa conhecer mais um nobre poeta.
Receba meu abraço.
Carlos
o gil sousa tem um blog com muita poesia, e alguma de sua autoria como a que aqui coloquei. vale a pena passar por lá. quanto ao Edward Hopper, as suas "imagens" carregam uma poesia que me fascina, muito pela sua simplicidade.
Abraço