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Mensagens

A mostrar mensagens de 2011

Um corpo encontra a sua profundidade fora dele

um corpo encontra a sua profundidade fora dele como a palavra isolada ilude a linguagem. mas é na palavra transitiva que nos amamos no que passa e contradiz no lugar onde o erro ainda subverte a sua prova mais ténue. respiro as nossas impossibilidades como se o corpo fosse a libertação de todas as coisas. Sylvia Beirute no blog Uma Casa em Beirute

Tudo o que eu te dou

Eu não sei que mais posso ser, um dia rei, outro dia sem comer. Por vezes forte, coragem de leão, às vezes fraco, assim é o coração. Eu não sei, que mais te posso dar, um dia jóias, noutro dia o luar. Gritos de dor, gritos de prazer, que um homem também chora quando assim tem de ser. Foram tantas as noites, sem dormir. Tantos quartos de hotel, amar e partir. Promessas perdidas escritas no ar, e logo ali eu sei... Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim. Tudo o que eu sonhei, tu serás assim. Tudo o que eu te dou, tu me dás a mim, tudo o que eu te dou. Sentado na poltrona beijas-me a pele morena fazes aqueles truques que aprendeste no cinema. mais, peço-te eu, já me sinto a viajar. Pára, recomeça, faz-me acreditar. Não, dizes tu E o teu olhar mentiu. Enrolados pelo chão no abraço que se viu. É madrugada ou é alucinação, estrelas de mil cores extasy ou paixão. Hmm, esse odor traz tanta saudade. Mata-me de amor ou dá-me liberdade. Deixa-

Maria Bethânia | Cântico Negro

Maria Bethânia Cântico Negro de José Régio

Cântico Negro

Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" ...Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas

Apple Blosson | Esperanza Spalding

Esperanza Spalding Live from Columbus Circle store in New York City on September 15, 2010

Migration

Robert and Shana ParkeHarrison

um rio longo e pesado como o véu de uma noiva

da minha cabeça escorre um rio longo e pesado como o véu de uma noiva, e tu, meu amor, nos meus olhos cerrados e no meu caminho estendes-me o braço, e depois a tua mão que se abre sem revelações e sem sombras, não me diz se te libertas ou se desistes de me salvar. há flores brancas no céu, cordas presas no horizonte que arrastam a luz como o véu de uma noiva, no tecido translúcido e solitário a minha alma esconde-se, e pelas portas abertas, pelas casas vazias, um hálito de sépia espalha-se na hora da minha pequena e insustentável morte. da minha cabeça escorre um rio longo e pesado como o véu de uma noiva e tu, meu doloroso e antecipado amor, és agora o meu fim. alma

Desejo Infinitesimal

{que horas eram quando o tempo acabou?}           {que horas eram quando deixaste de poder reproduzir clandestinamente a explicação           da conclusão do desejo infinitesimal?} {que horas eram quando a razão de espírito      substituiu a de ciência na ocupação do abraço?} {que horas eram quando te adiantaste à felicidade                          no dia que dilui           na percepção multiforme da multidão?} {que horas eram quando a boca simulou            o silêncio com princípios aleatórios?} {que horas eram quando deixaste que a alma            somasse corpos e subtraísse outros?} {que horas eram quando viver era deixar morrer                e a solidão incomunicável?} {que horas eram quando o tempo acabou?                                 que horas eram?} Sylvia Beirute do blog Uma Casa em Beirute

Made for You

The Gift

Dorme, meu amor

Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos. Fecha os olhos agora e sossega ― o pior já passou há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão desvia os passos do medo. Dorme, meu amor ― a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste e pode levantar-se como um pássaro assim que adormeceres. mas nada temas; as suas asas de sombra não hão-de derrubar-me ― eu já morri muitas vezes e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos agora e sossega ― a porta está trancada; e os fantasmas da casa que o jardim devorou andam perdidos nas brumas que lancei no caminho. Por isso, dorme, meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui, de guarda aos pesadelos ― a noite é um poema que conheço de cor e vou contar-to até adormeceres. Maria do Rosário Pedreira

Happy Days Are Here Again / Get Happy

Judy Garland e Barbara Streisand

Metade

Que a força do medo que tenho Não me impeça de ver o que anseio Que a morte de tudo em que acredito Não me tape os ouvidos e a boca Porque metade de mim é o que eu grito Mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe Seja linda ainda que tristeza Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada Mesmo que distante Porque metade de mim é partida Mas a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor Apenas respeitadas Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos Porque metade de mim é o que ouço Mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora Se transforme na calma e na paz que eu mereço Que essa tensão que me corrói por dentro Seja um dia recompensada Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um

Steamed

Alyssa Monks