O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
As suas postagens continuam encantando. Estão cada vez melhores.
Principalmente as que são envolvidas por um silêncio solene [as sem texto], onde cabe a nós decifrá-las e viajar com a imaginação.
Esta das caixinhas coloridas me traz um cheiro do Oriente, de especiarias, de coisas místicas. Também me faz pensar naqueles pátios onde se acumulam tanques para tingimento de tecidos [novamente uma presença oriental de rara beleza].
Aprecio este seu cuidado com cada detalhe, cada cor, cada palavra. A tradução de Albano ficou divina. E o seu resgate da obra de Winslow Homer é mais do que bem vindo.
Bravo, Isabel! Bravo!
Abraços do
Carlos