Avançar para o conteúdo principal

As pequenas descobertas

sabias que esta noite eu desejei
que a vida, seguindo um simples capricho,
passasse a desvendar todos os atalhos,
e nos conseguisse encontrar?

para trazer à minha volta,
o teu sorriso de pólen e a falsa
excitação do abismo sob os pés.

que todos os cabelos ao luar revoltos,
se transformassem em borlas de algas tenras,
passamanaria entre nossos dedos.

foi quando ouvi o choro dos ciprestes,
e abrindo os olhos,
eras novelo perto do meu rosto,
espelho opaco mas sensível

às minhas mãos em cunha,
buscando nos teus ângulos,
a presença do sopro que me anima:
a tua luminosa quietude.



Carlos Henrique Leiros
do Almofariz

Comentários

Caríssima Isabel;
.
Você não imagina a minha surpresa ao aqui chegar agora, encontrando postagem com poema meu. E neste espaço, onde poetas imortais desfilam...estar aqui entre eles, por sua generosidade, muito me honra e me alegra.
Gostaria de ter palavras para expressar-lhe a sensação de me ler e de ser lido com tantas obras-primas ao redor. Mas elas me fogem.
Fica o meu sincero agradecimento.
Abraço do
Carlos

Mensagens populares deste blogue

XTERIORS XVII

  Desirée Dolron

O Canavial e o Mar

O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice