O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
Se eu pudesse escolher uma palavra para exemplificar a grande mensagem do filme, escolheria "desencanto". O personagem principal, ao meu ver, anseia por momentos mágicos que não podem mais ser reconstituídos.
Passando à postagem anterior, encontro Ricardo Reis, como "Coroai-me de Rosas".
O que dizer, meu Deus? Magnífico. De todos os heterônimos de Fernando Pessoa, é o meu preferido.
O Hálito, por isso e por tantas outras coisas, é um lugar onde nos sentimos particularmente bem.
Receba, Isabel, o abraço do amigo.
Carlos
Um abraço.