O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
As vozes e os arranjos são notáveis.
Esta música, então, parece calhar como uma luva à belíssima poesia trazida por Ricardo Reis, e que aqui você nos oferta a todos, como exemplo ímpar da Poesia Portuguesa, que, ao meu ver, fez-se grande e encantadora.
São versos de requinte, raros mesmo.
Abraços, Isabel.
Carlos
Também sou fâ do Madredeus e da poesia portuguesa; a ambos eu pretendo conhecer (para poder desfrutar) cada vez mais, sem prejuízo das coisas novas que certamente hei de descobrir... por isso gosto muito de vir aqui.
Um abraço.