gritas, gritam até que o outro ensurdeça, até que fique com os pés presos na lama e se esgote. gritas, gritam palavras e frases de uma ordem estéril que nos matará. rasgam os pulmões com cânticos, alucinados, com uma narrativa estúpida de quem nos crê estúpidos...e seremos? rangem os dentes, soltam os caninos e farejam a hesitação com o dedo no gatilho, lambem-nos o medo na pele... abrem as gargantas de onde saem línguas como canos apontados ao nosso cérebro, línguas sibilantes num hálito de enxofre, numa infindável oratória que nos queima a pele, nos rompe a mente. destroem o silêncio. gritam que somos vítimas, as suas vítimas, as legítimas, enquanto desviam o olhar e fecham as órbitas embaciadas para que a realidade não os capture. gritam, gritam e gritam pois enquanto gritam não param, não pensam, não deixam que ninguém pare, e ninguém pensa. embalam os corações nas bandeiras e nos hinos para conseguirem adormecer, para que o sono...
Comentários
Surpreendido que estou pelos novos poemas traduzidos [e que descoberta prazerosa esta, com todo o fougère oriental desse poeta que eu não conhecia e que já acho magnífico, mais ainda porque a tradução para o português o aveluda].
Digo-lhe também da minha inteira satisfação em recebê-la no Almofariz, e do quanto me sinto lisongeado com suas palavras, em relação aos meus escritos.
Hoje andei falando a uma amiga e poetisa acerca do Hálito e do Vôo, e do quanto considero de qualidade o seu trabalho nestes dois espaços.
Aguarde, pois, visitas.
E receba o abraço do amigo.
Carlos