O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]
Comentários
Surpreendido que estou pelos novos poemas traduzidos [e que descoberta prazerosa esta, com todo o fougère oriental desse poeta que eu não conhecia e que já acho magnífico, mais ainda porque a tradução para o português o aveluda].
Digo-lhe também da minha inteira satisfação em recebê-la no Almofariz, e do quanto me sinto lisongeado com suas palavras, em relação aos meus escritos.
Hoje andei falando a uma amiga e poetisa acerca do Hálito e do Vôo, e do quanto considero de qualidade o seu trabalho nestes dois espaços.
Aguarde, pois, visitas.
E receba o abraço do amigo.
Carlos