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eira do catavento | 3. setembro

agora o outono chega, nos seus plácidos
meneios pelas vinhas. um dos vizinhos passa
um cabaz de maçãs por sobre a vedação:
redondas, verdes, o seu perfume vai
dentro de quinze dias ser mais forte.

a noite cai mais cedo e apetece
guardar certos vermelhos da folhagem
e amarelos e castanhos nas ladeiras
de setembro. a rádio fala no tempo variável
que vem aí dentro de dias. talvez caia

uma chuvinha benfazeja, a pôr no ponto certo
os bagos de uva. e há poalhas morosas, mais douradas.
aproveita-se o outono no macio
enchimento dos frutos para colhê-lo a tempo.
devagar, dvagar. é mais doce no outono a tua pele,


Vasco Graça Moura

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