Detinhamo-nos por entre a luz e o rumor da alegria, o som da erva e a brandura grave dos seus gestos. Tínhamos o sentido de tudo ao alcance de nossas mãos. Quase bastaria estendê-las e pousá-las na fria realidade, tomar-lhe o peso redondo, sentir-lhe a superfície apreensível. E, de repente, o negrume informe e espesso, o desmoronar vertiginoso da razão (Oh meu Amor, à beira da morte, tão perto da vida! Estremeces nos meus braços, levo na minha à tua boca a respiração indispensável, um ténue sopro alveolar. Estremeces, pequeno animal de ternura, teu único sentido alerta, no mais um opaco sono crepuscular. Gaivota surpreendida no cerne da tormenta, tenteias hesitante, vagarosamente, a frágil ponte lançada através da bruma. Permaneces equilibrada sobre o pavor e a ternura. Liga-nos uma acesa elipse de fogo, uma curva seminal apoiada em lábios, línguas, sexo e nos bornes da imaginação. Por aí circulamos, livres, esguios peixes líquidos deslizando em silêncio e penumbra. Amanhã não é, talve...