O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]
Comentários
Se eu pudesse escolher uma palavra para exemplificar a grande mensagem do filme, escolheria "desencanto". O personagem principal, ao meu ver, anseia por momentos mágicos que não podem mais ser reconstituídos.
Passando à postagem anterior, encontro Ricardo Reis, como "Coroai-me de Rosas".
O que dizer, meu Deus? Magnífico. De todos os heterônimos de Fernando Pessoa, é o meu preferido.
O Hálito, por isso e por tantas outras coisas, é um lugar onde nos sentimos particularmente bem.
Receba, Isabel, o abraço do amigo.
Carlos
Um abraço.