gritas, gritam até que o outro ensurdeça, até que fique com os pés presos na lama e se esgote. gritas, gritam palavras e frases de uma ordem estéril que nos matará. rasgam os pulmões com cânticos, alucinados, com uma narrativa estúpida de quem nos crê estúpidos...e seremos? rangem os dentes, soltam os caninos e farejam a hesitação com o dedo no gatilho, lambem-nos o medo na pele... abrem as gargantas de onde saem línguas como canos apontados ao nosso cérebro, línguas sibilantes num hálito de enxofre, numa infindável oratória que nos queima a pele, nos rompe a mente. destroem o silêncio. gritam que somos vítimas, as suas vítimas, as legítimas, enquanto desviam o olhar e fecham as órbitas embaciadas para que a realidade não os capture. gritam, gritam e gritam pois enquanto gritam não param, não pensam, não deixam que ninguém pare, e ninguém pensa. embalam os corações nas bandeiras e nos hinos para conseguirem adormecer, para que o sono...
Comentários
Eis-me de volta ao Hálito, bastante encantado com as suas últimas postagens.
Como admirador de Edward Hopper, não poderia ficar silente ao encontrar tão belas obras e suas criativas adaptações.
Nighthawks [aves noturnas]muito me emociona. Outra que gostaria de citar é Cape Cod Evening [amanhecer em cape cod]. Tem uma beleza que nos cativa!
No mais, li e reli o belo poema Flor de Sal, do Gil T. Sousa. Que grata surpresa conhecer mais um nobre poeta.
Receba meu abraço.
Carlos
o gil sousa tem um blog com muita poesia, e alguma de sua autoria como a que aqui coloquei. vale a pena passar por lá. quanto ao Edward Hopper, as suas "imagens" carregam uma poesia que me fascina, muito pela sua simplicidade.
Abraço