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Desejo Infinitesimal

{que horas eram quando o tempo acabou?}
          {que horas eram quando deixaste de
poder reproduzir clandestinamente a explicação
          da conclusão do desejo infinitesimal?}
{que horas eram quando a razão de espírito
     substituiu a de ciência na ocupação do abraço?}
{que horas eram quando te adiantaste à felicidade
                         no dia que dilui
          na percepção multiforme da multidão?}
{que horas eram quando a boca simulou
           o silêncio com princípios aleatórios?}
{que horas eram quando deixaste que a alma
           somasse corpos e subtraísse outros?}
{que horas eram quando viver era deixar morrer
               e a solidão incomunicável?}
{que horas eram quando o tempo acabou?
                                que horas eram?}


Sylvia Beirute
do blog Uma Casa em Beirute

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  Desirée Dolron

O Canavial e o Mar

O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice