Avançar para o conteúdo principal

Desejo Infinitesimal

{que horas eram quando o tempo acabou?}
          {que horas eram quando deixaste de
poder reproduzir clandestinamente a explicação
          da conclusão do desejo infinitesimal?}
{que horas eram quando a razão de espírito
     substituiu a de ciência na ocupação do abraço?}
{que horas eram quando te adiantaste à felicidade
                         no dia que dilui
          na percepção multiforme da multidão?}
{que horas eram quando a boca simulou
           o silêncio com princípios aleatórios?}
{que horas eram quando deixaste que a alma
           somasse corpos e subtraísse outros?}
{que horas eram quando viver era deixar morrer
               e a solidão incomunicável?}
{que horas eram quando o tempo acabou?
                                que horas eram?}


Sylvia Beirute
do blog Uma Casa em Beirute

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A essência dos dias.2

O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]

XTERIORS XVII

  Desirée Dolron

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice