O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]
"(...) Caminho pelos lugares queridos, sem tristeza, nem mágoa, altas, condoídas árvores, lagos serenos escorrendo de meus olhos, hálito azul da tarde que, por cair, de sombras vai tranquilizando o horizonte. Só, meu coração, bate contra a pedra e o silêncio." Rui Knopfli.

Comentários
emiliorobin.blogspot.com
Obrigada por mais este insight, ler contra o silêncio é o que mais preciso fazer, mesmo tendo feito muito isso, ultimamente...
Um abraço.
Grata por sua "preocupação estranha".
O mundo se tornou um lugar tão estranho por falta dela, porque nos acostumamos a viver sem nos importarmos muito com os outros... mas eu estou bem, não é nada grave, são só os altos e baixos da vida, quando a gente se dispõe a vivê-la. Espero que vc esteja bem e continue com seus blogs, que são lindos e fazem a gente querer seguir sempre em frente.
Um abraço.
Estou com saudades de vc.
Um abraço.