O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
emiliorobin.blogspot.com
Obrigada por mais este insight, ler contra o silêncio é o que mais preciso fazer, mesmo tendo feito muito isso, ultimamente...
Um abraço.
Grata por sua "preocupação estranha".
O mundo se tornou um lugar tão estranho por falta dela, porque nos acostumamos a viver sem nos importarmos muito com os outros... mas eu estou bem, não é nada grave, são só os altos e baixos da vida, quando a gente se dispõe a vivê-la. Espero que vc esteja bem e continue com seus blogs, que são lindos e fazem a gente querer seguir sempre em frente.
Um abraço.
Estou com saudades de vc.
Um abraço.