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O jardim do solar

As fontes estão secas e as rosas acabaram.
Incenso da morte. O teu dia aproxima-se.
As pêras engordam como pequenos budas.
Uma névoa azul prolonga o lago.

Moves-te atravês da era dos peixes,
dos presumidos séculos do porco...
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos
saem nítidos da sombra. A História

alimenta estas caneluras quebradas,
estas coroas de acantos,
e o corvo vem arranjar as suas vestes.
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.

Dois suicidas, os lobos da família,
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
já iluminam os céus.
A aranha na sua própria teia

atravessa o lago. Os vermes
abandonam as suas casas habituais.
As pequenas aves convergem, convergem
com as suas dádivas para um difícil nascimento.




Sylvia Plath
traduzida por Maria de Lourdes Guimarães

Comentários

livia soares disse…
Querida,
muito obrigada por esta linda postagem. Eu amo a poesia de Sylvia Plath. É para mim uma fonte permanente de descobertas.
Um abraço.
Caríssima Isabel;
.
Retorno ao Almofariz após ligeiro recesso, no qual pude sorver um pouco de isolamento e descanso, alimentos essenciais ao cultivo da inspiração.
.
Volto agora e, como não poderia deixar de ser, maravilhado com o belo poema de Sylvia Plath, o qual leio e releio com a máxima reverência, como quem recebe um valioso ensinamento.
.
A você endereço meus melhores votos. É bom revê-la!
Um forte abraço do amigo.
Carlos

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