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O jardim do solar

As fontes estão secas e as rosas acabaram.
Incenso da morte. O teu dia aproxima-se.
As pêras engordam como pequenos budas.
Uma névoa azul prolonga o lago.

Moves-te atravês da era dos peixes,
dos presumidos séculos do porco...
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos
saem nítidos da sombra. A História

alimenta estas caneluras quebradas,
estas coroas de acantos,
e o corvo vem arranjar as suas vestes.
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.

Dois suicidas, os lobos da família,
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
já iluminam os céus.
A aranha na sua própria teia

atravessa o lago. Os vermes
abandonam as suas casas habituais.
As pequenas aves convergem, convergem
com as suas dádivas para um difícil nascimento.




Sylvia Plath
traduzida por Maria de Lourdes Guimarães

Comentários

livia soares disse…
Querida,
muito obrigada por esta linda postagem. Eu amo a poesia de Sylvia Plath. É para mim uma fonte permanente de descobertas.
Um abraço.
Caríssima Isabel;
.
Retorno ao Almofariz após ligeiro recesso, no qual pude sorver um pouco de isolamento e descanso, alimentos essenciais ao cultivo da inspiração.
.
Volto agora e, como não poderia deixar de ser, maravilhado com o belo poema de Sylvia Plath, o qual leio e releio com a máxima reverência, como quem recebe um valioso ensinamento.
.
A você endereço meus melhores votos. É bom revê-la!
Um forte abraço do amigo.
Carlos

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Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice

Uns cegos, outros surdos

gritas, gritam até que o outro ensurdeça,  até que fique com os pés presos na lama e se esgote. gritas, gritam palavras e frases de uma ordem estéril que nos matará. rasgam os pulmões com cânticos, alucinados,  com uma narrativa estúpida de quem nos crê estúpidos...e seremos? rangem os dentes,  soltam os caninos e farejam a hesitação com o dedo no gatilho, lambem-nos o medo na pele... abrem as gargantas de onde saem línguas como canos apontados ao nosso cérebro,  línguas sibilantes num hálito de enxofre, numa infindável oratória que nos queima a pele, nos rompe a mente. destroem o silêncio. gritam que somos vítimas,  as suas vítimas,  as legítimas,  enquanto desviam o olhar e fecham as órbitas embaciadas para que a realidade não os capture. gritam, gritam e gritam pois enquanto gritam não param,  não pensam, não deixam que ninguém pare, e ninguém pensa. embalam os corações nas bandeiras e nos hinos para conseguirem adormecer,  para que o sono...