gritas, gritam até que o outro ensurdeça, até que fique com os pés presos na lama e se esgote. gritas, gritam palavras e frases de uma ordem estéril que nos matará. rasgam os pulmões com cânticos, alucinados, com uma narrativa estúpida de quem nos crê estúpidos...e seremos? rangem os dentes, soltam os caninos e farejam a hesitação com o dedo no gatilho, lambem-nos o medo na pele... abrem as gargantas de onde saem línguas como canos apontados ao nosso cérebro, línguas sibilantes num hálito de enxofre, numa infindável oratória que nos queima a pele, nos rompe a mente. destroem o silêncio. gritam que somos vítimas, as suas vítimas, as legítimas, enquanto desviam o olhar e fecham as órbitas embaciadas para que a realidade não os capture. gritam, gritam e gritam pois enquanto gritam não param, não pensam, não deixam que ninguém pare, e ninguém pensa. embalam os corações nas bandeiras e nos hinos para conseguirem adormecer, para que o sono...
Comentários
As vozes e os arranjos são notáveis.
Esta música, então, parece calhar como uma luva à belíssima poesia trazida por Ricardo Reis, e que aqui você nos oferta a todos, como exemplo ímpar da Poesia Portuguesa, que, ao meu ver, fez-se grande e encantadora.
São versos de requinte, raros mesmo.
Abraços, Isabel.
Carlos
Também sou fâ do Madredeus e da poesia portuguesa; a ambos eu pretendo conhecer (para poder desfrutar) cada vez mais, sem prejuízo das coisas novas que certamente hei de descobrir... por isso gosto muito de vir aqui.
Um abraço.