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Mensagens

Jade Room

Caroline Walker

Verdes anos

Era o amor que chegava e partia: estarmos os dois era um calor que arrefecia sem antes nem depois… Era um segredo sem ninguém para ouvir: eram enganos e era um medo, a morte a rir nos nossos verdes anos... Teus olhos não eram paz, não eram consolação. O amor que o tempo traz o tempo o leva na mão. Foi o tempo que secou a flor que ainda não era. Como o Outono chegou no lugar da Primavera! No nosso sangue corria um vento de sermos sós. Nascia a noite e era dia, e o dia acabava em nós… O que em nós mal começava não teve nome de vida: era um beijo que se dava numa boca já perdida. Pedro Tamen
"(...) Mas quem te disse que é proibido estar triste? A verdade é que, muitas vezes, não há nada mais sensato que estar triste (...)" Héctor Abad Faciolince Receitas de Amor para Mulheres Tristes

Ballet dancer in Cuba

You want it darker | Leonard Cohen

There´s a lullaby for suffering And a a paradox to blame ... You want it darker We kill the flame

Ler contra o silêncio | 19

Girl in grey Louis le Brocquy

Aqui nesta praia | 40

On the sands,  William Henry Margetson

Ternura | Vinícius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente  Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentado Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.  Vinícios de Moraes

Choro bandido

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu Serão bonitas, não importa São bonitas as canções Mesmo miseráveis os poetas Os seus versos serão bons Mesmo porque as notas eram surdas Quando um Deus sonso e ladrão Fez das tripas a primeira lira Que animou todos os sons E daí nasceram as baladas E os arroubos de bandidos como eu Cantando assim: Você nasceu para mim Você nasceu para mim Mesmo que você feche os ouvidos E as janelas do vestido Minha musa vai cair em tentação Mesmo porque estou falando grego Com sua imaginação Mesmo que você fuja de mim Por labirintos e alçapões Saiba que os poetas como os cegos Podem ver na escuridão E eis que, menos sábios do que antes Os seus lábios ofegantes Hão de se entregar assim: Me leve até o fim Me leve até o fim Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso São bonitas, não importa São bonitas as canções Mesmo sendo errados os amantes Seus amores serão bons Chico Buarque e Edu Lobo

All Bells In Paradise | Kings College Choir, John Rutter

A Biblioteca Vazia

C onto escrito sobre A Biblioteca, de Zoran Zivkovic. Caros companheiros do clube de leitura Pareceu-me apropriado sugerir que nos encontrássemos hoje para uma degustação. No encalce de Zoran cada um de nós deliciar-se-ia com o seu livro, partilhando os sabores originais que tal manjar descobriria, ou não…contudo… encontro-me impedida de o fazer. Terminada ontem a leitura, guardei como sempre o meu Zoran, na minha mochila, no seu compartimento. Esta seria a última vez que nos veríamos. Em casa, quando mergulhei a minha mão para recolher, ciosa, e uma a uma, todas as bibliotecas lidas, não as encontrei. Nenhuma, sem explicação e sem rasto. Nunca, nenhum livro, por muito fraco, decrépito, ruim ou danado que fora, se atrevera a deixar alguém. Mas Zoran fê-lo. Zoran atreveu-se a desafiar o impossível. Zoran chamou-me de modo furtivo e dissimulado, abraçou-me, levou-me por atalhos singulares e estrangeiros. Desafiou-me no exato e cirúrgico modo que sabia me aprazer e, depoi...

Screen I

Alexandra Hedison

Explicação da eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo. o ódio transforma-se em tempo, o amor transforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo. os assuntos que julgámos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo. por si só, o tempo não é nada. a idade de nada é nada. a eternidade não existe. no entanto, a eternidade existe. os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. os instantes do teu sorriso eram eternos. os instantes do teu corpo de luz eram eternos. foste eterna até ao fim.  José Luís Peixoto

Queda

O vazio cai abissal no rasgo dos olhos Carlos Couto Amaral O Alpinista Descendente, é o livro que abre hoje a 2ª época do Clube de Leitura da  Livraria e Papelaria Espaço , em Algés

Fever

Maria Kreyn

Escuta, Amor

Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas de terra. (...) José Luís Peixoto Abraço

Peito vazio

Roberta Sá e Ney Matogrosso

alone together

Maria Kreyn http://mariakreyn.com/alone-together

fingir que está tudo bem

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga. José Luís Peixoto

Sleeping beauties

Teresa Dias Coelho