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Mensagens

Aqui nesta praia | 38

Ondine,  Paul Gauguin

Bem-vinda

Ocorre-me que vais chegar distinta não exactamente mais linda nem mais forte nem mais dócil nem mais cauta somente que vais chegar distinta como se esta temporada de não me veres te tivesse surpreendido a ti também talvez porque sabes como te penso e te enumero depois de tudo a nostalgia existe ainda que não choremos nos corredores fantasmáticos nem sobre as almofadas de candor nem por baixo do céu opaco eu nostalgio tu nostalgias e que me interessa que ele nostalgie o teu rosto é vanguarda talvez chegue primeiro porque o pinto nas paredes com traços invisíveis e seguros não esqueças que o teu rosto me olha como povo sorri e enfurece-se e canta como povo e isso dá-te uma luz inapagável agora não tenho dúvidas vais chegar distinta e com sinais com novas com profundidade com franqueza sei que vou querer-te sem perguntas sei que vais querer-me sem respostas Mario Benedetti

Susmita

Kate Lehman

Indian Summer

Andrew Wyeth

mais longe

fora do tempo é mais longe do que qualquer espelho minha ilha meu incêndio de pedra sobre a corrente assassina de me perder cansa-me de água e de sol inquieta-me do segredo das sementes e do chão tóxico dos vulcões em que me deitei quando a noite me atormentava de não chegares quando a madrugada me matava de partires gil t. sousa do blog falso lugar

Edge | Verse 2

Nicholas Hughes

Recorda

Recorda-me quando eu te abandonar Quando me for sob a terra silente; Quando achares a minha mão ausente, E eu, querendo partir, já não ficar. Quando já não me puderes contar Planos dum futuro que nos não cabe, Recorda-me somente; tu bem sabes Que então será tarde para rezar. Mas se me esqueceres entrementes E depois recordares, não lamentes: Pois se a corrupção te assombrar os dias Com ideias que eu tinha na cabeça, Melhor será que me esqueças e sorrias Do que minha memória te entristeça. Tradução de Margarida Vale de Gato Recorda-te de mim quando eu embora For para o chão silente e desolado; Quando eu não te tiver mais ao meu lado E sombra vã chorar por quem me chora. Quando mais não puderes, hora a hora, Falar-me no futuro que hás sonhado, Ah de mim te recorda e do passado, Delícia do presente por agora. No entanto, se algum dia me olvidares E depois te lembrares novamente, Não chores: que se em meio aos meus pesares Um resto houver do afecto que em mim viste, - Melhor é me esquecere...

Cassie´s hand

Allan Jenkins

Não tenhas medo do amor

Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirar no seu seio os nomes das coisas que ali estão a crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro e as campainhas azuis; a menta perfumada para as infusões do verão e a teia de raízes de um pequeno loureiro que se organiza como uma rede de veias na confusão de um corpo. A vida nunca foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo. Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor da tempestade que faz ruir os muros: explode no teu coração um amor-perfeito, será doce o seu pólen na corola de um beijo, não tenhas medo, hão-de pedir-to quando chegar a primavera. Maria do Rosário Pedreira

Marga eyelashes

Allan Jenkins

Nahoko´s lips

Allan Jenkins

Diz-me o teu nome

Diz-me o teu nome - agora, que perdi quase tudo, um nome pode ser o princípio de alguma coisa. Escreve-o na minha mão com os teus dedos - como as poeiras se escrevem, irrequietas, nos caminhos e os lobos mancham o lençol da neve com os sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido, como a levares as palavras de um livro para dentro de outro - assim conquista o vento o tímpano das grutas e entra o bafo do verão na casa fria. E, antes de partires, pousa-o nos meus lábios devagar: é um poema açucarado que se derrete na boca e arde como a primeira menta da infância. Ninguém esquece um corpo que teve nos braços um segundo - um nome sim. Maria do Rosário Pedreira

Mona

Allan Jenkins

Daria

Allan Jenkins

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti

Quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti. Cobre o meu corpo frio com um desses lençóis que alagámos de beijos quando eram outras horas nos relógios do mundo e não havia ainda quem soubesse de nós; e leva-o depois para junto do mar, onde possa ser apenas mais um poema - como esses que eu escrevia assim que a madrugada se encostava aos vidros e eu tinha medo de me deitar só com a tua sombra. Deixa que nos meus braços pousem então as aves (que, como eu, trazem entre as penas a saudades de um verão carregado de paixões). E planta à minha volta uma fiada de rosas brancas que chamem pelas abelhas, e um cordão de árvores que perfurem a noite - porque a morte deve ser clara como o sal na bainha das ondas, e a cegueira sempre me assustou (e eu já ceguei de amor, mas não contes a ninguém que foi por ti). Quando eu morrer, deixa-me a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me que rasgas os meus versos em pedaços tão pequ...

Elisabeth

Allan Jenkins

Faceless

Manuel Librodo

Há crianças nas árvores que absorvem a noite

Há crianças nas árvores que absorvem a noite, enquanto as estrelas caiem frias no chão, e a luz se esvai pela terra em caminhos húmidos. As crianças que levam os fins dos dias, e correm ensurdecedoras e felizes, prenunciam a noite no sibilar das folhas, e encerram as janelas nas paredes, e nos quartos, verdes e ásperos, um cheiro de éter escorre. Há crianças nas árvores que absorvem a luz pálida da manhã próxima, um dia já fora do nosso alcance. alma