Avançar para o conteúdo principal

É este o dia anunciado, a hora da desesperança!

É este o dia anunciado, a hora da desesperança!

Expulsos de um tempo julgado sem fim,
onde os corpos se banharam indolentes e incautos,
procuramos em vão, de novo, o caminho...sem um fio de luz, sem alento, sem consolo.

Os teus olhos, os meus olhos, os nossos olhos quase cegos
choram, tardiamente, a memória ardida,
prostrados perante as etéreas cinzas que de nós se apartam.

É esta a manhã negra do nosso desalento!

Afastados da vida, num devir atormentado
que nos lança as presas onde já não há carne, 
resta-nos cumprir a pena aceitando-a como um bálsamo.

Os meus braços, os teus braços, os nossos abraços
esmagados, ameaçados, extintos,
são as estátuas de pedra que tomam agora o lugar das árvores caídas.

São estas as criaturas inumadas em que nos transfigurámos!

E assim, levianos, soterrados no sedimento do nosso desânimo,
ora resignados, ora alarmados,
seguimos...com a granada dentro do peito.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

XTERIORS XVII

  Desirée Dolron

A essência dos dias.2

O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice