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Tudo

Deitado numa núvem de não-ser
Deixei ao deus-dará tantos abraços
Afastando-me assim, sem o saber
Do ponto de chegada dos meus passos

Caminho é quanto fica da viagem
Paragem é caminho para trás
E agora só me resta por bagagem
O tanto mal que fez o tanto-faz

Julgava não ser nada, e era tudo
Pois tudo, em cada nada, acontece
Pr' além das sombras do tempo miúdo
A grande luz do tempo permanece

Contigo, tenho agora de inventar
Essoutra núvem de uma cor diferente
Em que, à força de aprender como te amar
Eu aprenda a amar tudo e toda a gente

À força de aprender como te amar
Aprendo a amar tudo e toda a gente


José Mário Branco
(fado das núvens)

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