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O seu esplendor

Esta é a hora do esplendor.
Abram todas as janelas brancas.

As árvores estão noivas das suas sombras
e vão começar a caminhar
ao som de marchas e de palmas.

O amor que ninguém inventou
na Terra une o que o Céu ignora.

Esta é a hora do esplendor.

Toda a dor tem o seu penso rápido
a atá-la, e nós vamos, vamos
pela senda das árvores, como elas
de braços levantados, na hora
do noivado que ficou à sua espera.
Tudo isto aconteceu no tempo
da Primavera da rapariga ainda
não amada.

Lídia Jorge
O Livro das Tréguas

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