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não achas que chegou a hora?

não achas que chegou a hora? um dia ainda me dizes que já não há nada. mais nada no lado de fora do tempo. os anos, sabes? essa maré que nos salva e afoga, que ora nos traz, ora nos leva. o amor ou a dor. sempre o amor ou a dor… ou um lugar, ou a hipótese de um lugar. qualquer ponto no universo onde a estrada acabe. onde o tempo acabe. onde toda a memória possa pairar como um céu sobre o passado. sobre todos os passados. tu sabes. um dia ainda me dizes tudo isto outra vez. não achas que chegou a hora? os navios ainda erram na linha de azul que nos amarra à terra. a estas janelas, a este dom de olhar. à dádiva de ver para lá e para cá, os navios, o mar, estes pássaros que o sol arrasta. esta luz antiga em que crescemos. que nos escreveu na pele o costume de adormecer e despertar como se as horas chegassem de dentro e morressem ainda mais dentro e isso fosse a marca, a escritura solene que te torna dono do que sempre te pertenceu.

gil t. sousa
do blog exercícios de esquecimento

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Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice