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SER DE SOMBRA

Fui até ao Insónia...e trouxe comigo este poema!


Chovia.
No bosque os pequenos ruídos de folhas de água
deslizando verde.
Chovia.
E eis que a límpida brancura se raiou de fumo
brilhando uma ágata.

Surgiam do chão os ramos os troncos
os braços desenterrados
bocas de luz
candeias
chuva de oiro o canto
desfibrado húmus
húmido incendiado.

Um ser de sombra e de água
chovia.

Os anéis dos cabelos acesos intactos
adejando a hera as mãos negras
e as anémonas
um lago.

A cinza era o que restava
verde chuva
alada
passagem rubra.


Ana Mafalda Leite

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