Avançar para o conteúdo principal

Manhã fria e cinzenta de tão vazia

A manhã está fria e cinzenta de tão vazia,
ninguém me vê

no mar tão macio, tão pequeno ao meu redor e
tão cheio de mim,

espero as horas que chegam, e partem, e voltam
parecem-me mulheres perdidas, desamadas, loucas,
cheias de silêncio levando as marés,

não ficam, não vou

ninguém é meu, ou minha,
não há histórias, não há memórias, não há cheiros,
não há canções, não há paredes manchadas, nem roupas estragadas,
não há flores no jardim, não há passos junto à porta,
não houve início, não há fim,
não há cama para fazer, nem mesa,
nem janela para abrir, nem livro pra fechar,

há um vazio
que não é possível,

um desejo
que não cresce

há uma dor
que não mata


alma

Comentários

*** disse…
Adorei o blog. encontrei muita poesia e musica que tambem faz parte das minhas tardes, azuis ou coloridas.;)
Obrigada.
Ana Isabel disse…
obrigada. volte sempre.
João Felipe disse…
Olá, tudo bem?
Será que vc saberia me dizer onde posso encontrar mais sobre o trabalho de Alma Kodiak? Tenho procurado pela internet, mas em vão. De qualquer maneira obrigado. Aliás, adorei o blog. Será que nós temos uma referência em comum? Reconheci algumas pinturas que eu já havia visto no blog "o silêncio dos livros". Se não, dê uma passada por lá, acredito que vai gostar.
Abraços. Até.
Ana Isabel disse…
Caro J. Filipe
Agradeço muito a sua visita e o seu comentário.
A Alma Kodiak é uma heterónima minha. Espero que tenha gostado...
Conheci o silêncio dos livros a semana passada e reparei que tinhamos algo em comum, sim.
Abraço e...volte sempre!
Ana Isabel

Mensagens populares deste blogue

XTERIORS XVII

  Desirée Dolron

O Canavial e o Mar

O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice