O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto
Comentários
adorei.
Um abraço.
.
Gostei bastante da imagem. Algo me soou nela como complemento ao poema de Sylvia Plath, deixado na postagem anterior.
Espero que tenha aproveitado bem o recesso de final de ano.
O Hálito continua um belíssimo espaço, sempre a nos cativar.
Receba o abraço do
Carlos