O livro aberto pousado nas suas mãos. Na macieza dos lábios as palavras mastigadas em silêncio e na dobra das pálpebras pequenos fragmentos de texto que não couberam naquelas páginas. A serena curva temporal do rosto acumula todos os pequenos assombros emocionais que cada parágrafo percorrido lhe desperta. O belíssimo rosto do ser amado a ler ilumina-se entretanto por um raio de sol que abre caminho por entre nuvens, braços, ombros e sacos. Olho a sua face iluminada. Iluminada pelo singelo e extraordinário raio de sol que ali escolheu terminar a sua viagem cósmica. Ali, no seu rosto, entre tantos outros na carruagem do comboio numa manhã de fevereiro. Ninguém atenta na singularidade deste instante. A luz que há minutos partiu de uma estrela viaja agora connosco no comboio. Ilumina-te. E na dobra do tempo, como antes na dobra das tuas pálpebras, somos atingidos pela poeira desta centelha. Somos perfeitos. Estamos numa única dimensão. Estamos em todo o lado. [ alma ]
"(...) Caminho pelos lugares queridos, sem tristeza, nem mágoa, altas, condoídas árvores, lagos serenos escorrendo de meus olhos, hálito azul da tarde que, por cair, de sombras vai tranquilizando o horizonte. Só, meu coração, bate contra a pedra e o silêncio." Rui Knopfli.

Comentários
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Creio ter chegado um pouco tarde, pois você já se encontra de viagem ao campo. Contudo, o recesso é mais do que merecido.
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Estive um pouco ausente, suportando uma tremenda carga de trabalho e atribuições próprias da época. Eis, portanto, a razão do silêncio. Mas em todo esse tempo, alimentei saudades daqui, pode acreditar.
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Passei uma vista d'olhos por tudo. E tudo continua belo, dos antigos postais às imagens e os poemas. Li Vinicius com prazer, e me encantei com os versos de David Mourão-Ferreira. Que bela descoberta, minha cara. Não o conhecia ainda.
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Por fim, receba os meus sinceros votos de um Natal feliz e de um Ano Novo realmente farto de coisas boas. Sei que tanto o Hálito quanto o Vôo continuarão lindos em 2008.
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Um abraço de amizade do
Carlos