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Em noites de verão

Em noites de verão,
povoadas de sombras,
não ouso confessar a solidão.
O tempo altera na voz o destino da luz.
Os sons familiares tornam-se sombrios.
O luar, humidamente cheio,
encobre a raiva,
na boca agitada do poema.
A imagem invertida da lua,
a ferir as mãos
e a desmesurar as palavras
arrasta-me o pensamento
até à perturbação.


Graça Pires

poema retirado do Insónia e de um livro que não conheço mas com um título genial "Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos".

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