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Eco

Vem até mim no silêncio da noite,
Vem no silêncio sussurrante de um sonho,
Vem com faces cheias e doces e olhos brilhantes
Como a luz do sol num regato,
Vem de volta em lágrimas
Oh! memória, esperança, amor de anos findos.

Oh! sonho doce, tão doce, demasiado amargo e doce,
Cujo acordar deveria ter lugar no Paraíso,
Onde as almas transbordantes de amor vivem e se encontram
Onde olhos sedentos anelantes
Observam a lenta porta
Que abrindo-se, deixando entrar, não mais deixa sair.

Mas vem até mim em sonhos, para que possa de novo viver
A minha vida verdadeira, embora fria na morte
Vem de volta para mim em sonhos, para que possa dar
Pulsar por pulsar, alento por alento:
Fala baixinho, inclina-te mais
Como há tanto tempo, meu amor, há quanto tempo.



Christina Georgina Rossetti
tradução de Margarida Vale de Gato

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