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Por mais que possa digo que não posso

Por mais que possa digo
que não posso. E vou chegando
a medo perto de ti, deixas
uma réstea da linha do corpo,
mapa de minas, bico
de esquina. Deixas que
aproxime às vezes os braços
assim a meio dos gestos, a
boca entre lançar sorrisos
e fechar-se. Agora vou
em hesitação. Agora decido,
não recuarei, abro o portão
do quintal, vou tratar das
flores, espalhar os grãos
de milho. Esquecer as colinas
sobre a pele. Enquanto
não houver segura idade.


Helder Moura Pereira

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