Avançar para o conteúdo principal

Por mais que possa digo que não posso

Por mais que possa digo
que não posso. E vou chegando
a medo perto de ti, deixas
uma réstea da linha do corpo,
mapa de minas, bico
de esquina. Deixas que
aproxime às vezes os braços
assim a meio dos gestos, a
boca entre lançar sorrisos
e fechar-se. Agora vou
em hesitação. Agora decido,
não recuarei, abro o portão
do quintal, vou tratar das
flores, espalhar os grãos
de milho. Esquecer as colinas
sobre a pele. Enquanto
não houver segura idade.


Helder Moura Pereira

Comentários

Mensagens populares deste blogue

XTERIORS XVII

  Desirée Dolron

O Canavial e o Mar

O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice