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Fragmento de...

Fragmentos de um discurso amoroso de Roland Barthes

"O mundo submete todo o empreendimento a uma alternativa: o sucesso ou o insucesso, a vitória ou a derrota. Protesto com base numa outra lógica: estou, ao mesmo tempo e contraditoriamente, feliz e infeliz: «sucesso» ou «insucesso» não têm para mim senão um significado contingente, passageiro ( o que não impede a violência dos meus sofrimentos e desejos); o que me anima, surda e obstinadamente, nada tem de táctico: aceito e afirmo independentemente de ser verdadeiro ou falso, bem sucedido ou mal sucedido; afasto-me de toda a finalidade, vivo à mercê do acaso ( à medida que as figuras do meu discurso me vêm à mente como as jogadas dos dados). Enfrentando a aventura ( o que me sucede), não saio nem vencedor nem vencido: sou trágico. (Dizem-me: essa forma de amor não é viável. Mas como avaliar a viabilidade? Por que razão ser viável é um Bem? Por que razão durar é melhor que arder?)"

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O Canavial e o Mar

O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice