Se por acaso morrer durante o sono   não quero que te preocupes inutilmente.   Será apenas uma noite sucedendo-se   a outra noite interminavelmente.     Se a doença me tolher na cama   e a morte aí me for buscar,   beija Amor, com a força de quem ama,   estes olhos cansados, no último instante.     Se, pela triste monotonia do entardecer,   me encontrarem estendido e morto,   quero que me venhas ver   e tocar o frio e sangue do corpo.     Se, pelo contrário, morrer na guerra   e ficar perdido no gelo de qualquer Coreia,   quero que saibas, Amor, quero que saibas,   pelo cérebro rebentado, pela seca veia,     pela pólvora e pelas balas entranhadas   na dura carne gelada,   que morri sim, que me não repito,   mas que ecoo inteiro na força do meu grito.   Rui Knopfli