fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido  com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro  do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir  que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde  os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas  não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão  desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós  olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver  sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de  medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto  dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes:  ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:  amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um  oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.   José Luís Peixoto  
"(...) Caminho pelos lugares queridos, sem tristeza, nem mágoa, altas, condoídas árvores, lagos serenos escorrendo de meus olhos, hálito azul da tarde que, por cair, de sombras vai tranquilizando o horizonte. Só, meu coração, bate contra a pedra e o silêncio." Rui Knopfli.