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A minha morte não ta dou

A minha morte, não ta dou. 
De resto, tiveste tudo 
- a flor, a sesta, o lusco-fusco, 
a inquietação do dia 8, 
as órbitas das mães, das mãos, 
das curiosas palavras de não dizer nadinha. 
Tudo tiveste: estás contente? 

Feliz assim por teres tudo o que sou? 
Feliz por perderes tudo o que sei? 

Só não te dou o que não serei. 
Não, a minha morte, não ta dou. 

Pedro Tamen

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