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A minha morte não ta dou

A minha morte, não ta dou. 
De resto, tiveste tudo 
- a flor, a sesta, o lusco-fusco, 
a inquietação do dia 8, 
as órbitas das mães, das mãos, 
das curiosas palavras de não dizer nadinha. 
Tudo tiveste: estás contente? 

Feliz assim por teres tudo o que sou? 
Feliz por perderes tudo o que sei? 

Só não te dou o que não serei. 
Não, a minha morte, não ta dou. 

Pedro Tamen

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O Canavial e o Mar

O que o mar sim ensina ao canavial: o avançar em linha rasteira da onda; o espraiar-se minucioso, de líquido, alagando cova a cova onde se alonga. O que o canavial sim ensina ao mar: a elocução horizontal de seu verso; a geórgica de cordel, ininterrupta, narrada em voz e silêncio paralelos. O que o mar não ensina ao canavial: a veemência passional da preamar; a mão-de-pilão das ondas na areia, moída e miúda, pilada do que pilar. O que o canavial não ensina ao mar: o desmedido do derramar-se da cana; o comedimento do latifúndio do mar, que menos lastradamente se derrama. João Cabral de Melo Neto

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte. Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa. Podíamos saber um pouco mais da vida. Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver. Podíamos saber um pouco mais do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor. Nuno Júdice