Passaram mais ou menos 6 anos. Naquele lugarejo,
era mesmo difícil contar os dias, os meses, os anos. Havia horas que duravam
alguns minutos e dias que se prolongavam por vários meses. Tal como no resto do
mundo, amanhecia e anoitecia em Boca da Foz, mas esses eventos não determinavam
por si só o início ou o fim de alguma coisa. Eram apenas uma orientação, uma
referência útil, porque a vila não vivia isolada.
Era como se o tempo fosse intuído, pressentido pela
alma de cada um.
Sebastião entrou na vida deles num dia muito curto
de novembro. Precisamente há 3 anos. Num dia tão curto e com tão pouca luz que
recordá-lo tornara-se confuso. Ficara sozinho de repente. Sem entender o que
acontecera. Sem perceber se, inadvertidamente, poderia ter sido ele a provocar
aquela situação. Mas não sentiu qualquer espécie de medo ou susto, ou até mesmo
de tristeza. Ele parecia antever o que o esperava. Como se a sua vida fosse uma
história já contada pela sua mãe, à noite, antes de adormecer.
Sebastião parecia não sentir a ausência dos seus
pais, mas tinha saudades do seu cheiro encostado a si. Saudades de ser olhado
por eles. Saudades de ouvir o som das suas vozes e o barulho que as suas vidas
em conjunto faziam.
A irmã de Natália e o marido desapareceram da vida
de Sebastião, numa madrugada tempestuosa, a caminho de casa, depois de uma
noite de festa. E foi esta circunstância que espantou Sebastião. Essa falha,
essa terrível imprevisibilidade. Essa variável obscura de nos podermos perder a
caminho de casa. Esta tremenda interrogação apoderou-se da sua mente durante
muitos dias e muitas noites.
Quando chegou a casa dos tios, teve vontade de
nunca mais de lá sair.
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