Madredeus
É este o dia anunciado, a hora da desesperança! Expulsos de um tempo julgado sem fim, onde os corpos se banharam indolentes e incautos, procuramos em vão, de novo, o caminho...sem um fio de luz, sem alento, sem consolo. Os teus olhos, os meus olhos, os nossos olhos quase cegos choram, tardiamente, a memória ardida, prostrados perante as etéreas cinzas que de nós se apartam. É esta a manhã negra do nosso desalento! Afastados da vida, num devir atormentado que nos lança as presas onde já não há carne, resta-nos cumprir a pena aceitando-a como um bálsamo. Os meus braços, os teus braços, os nossos abraços esmagados, ameaçados, extintos, são as estátuas de pedra que tomam agora o lugar das árvores caídas. São estas as criaturas inumadas em que nos transfigurámos! E assim, levianos, soterrados no sedimento do nosso desânimo, ora resignados, ora alarmados, seguimos...com a granada dentro do peito. [ alma ]
Comentários
As vozes e os arranjos são notáveis.
Esta música, então, parece calhar como uma luva à belíssima poesia trazida por Ricardo Reis, e que aqui você nos oferta a todos, como exemplo ímpar da Poesia Portuguesa, que, ao meu ver, fez-se grande e encantadora.
São versos de requinte, raros mesmo.
Abraços, Isabel.
Carlos
Também sou fâ do Madredeus e da poesia portuguesa; a ambos eu pretendo conhecer (para poder desfrutar) cada vez mais, sem prejuízo das coisas novas que certamente hei de descobrir... por isso gosto muito de vir aqui.
Um abraço.