PRIMEIRA VOZ:
Não há milagre mais cruel que este.
Sou arrastada por cavalos, por cascos de ferro.
Resisto. Resisto o mais que posso. Concluo a obra.
Um túnel negro, através do qual se percipitam as aparições,
As aparições, as evidências, os rostos desfigurados.
Sou o centro de uma atrocidade.
Que dores, que penas estarei eu a dar à luz?
Será esta inocência capaz de matar e matar repetidamente? Suga-me a vida
As árvores secam na rua. A chuva é corrosiva.
Experimento-a na minha língua, e todos os outros horrores praticáveis,
Os horrores que esperam e espreitam, as madrinhas desdenhosas
Com os corações a fazerem tic tic, e os seus saquinhos de instrumentos.
Eu hei-de ser uma parede e um tecto protector.
Hei-de ser um céu e uma montanha de bondade: Mas agora deixem-me!
Sinto uma força a crescer dentro de mim, uma imensa tenacidade.
Rasgo-me ao meio, como o mundo. E há esta escuridão,
Toda esta profunda escuridão. Cruzo as mãos sobre uma montanha.
O ar está espesso. Está espesso com o labor.
Sou usada. Sou usada à força.
Os meus olhos são esmagados por toda esta escuridão.
Não vejo nada.
Sylvia Plath
traduzida por Ana Gabriela Macedo
Não há milagre mais cruel que este.
Sou arrastada por cavalos, por cascos de ferro.
Resisto. Resisto o mais que posso. Concluo a obra.
Um túnel negro, através do qual se percipitam as aparições,
As aparições, as evidências, os rostos desfigurados.
Sou o centro de uma atrocidade.
Que dores, que penas estarei eu a dar à luz?
Será esta inocência capaz de matar e matar repetidamente? Suga-me a vida
As árvores secam na rua. A chuva é corrosiva.
Experimento-a na minha língua, e todos os outros horrores praticáveis,
Os horrores que esperam e espreitam, as madrinhas desdenhosas
Com os corações a fazerem tic tic, e os seus saquinhos de instrumentos.
Eu hei-de ser uma parede e um tecto protector.
Hei-de ser um céu e uma montanha de bondade: Mas agora deixem-me!
Sinto uma força a crescer dentro de mim, uma imensa tenacidade.
Rasgo-me ao meio, como o mundo. E há esta escuridão,
Toda esta profunda escuridão. Cruzo as mãos sobre uma montanha.
O ar está espesso. Está espesso com o labor.
Sou usada. Sou usada à força.
Os meus olhos são esmagados por toda esta escuridão.
Não vejo nada.
Sylvia Plath
traduzida por Ana Gabriela Macedo
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